Olho para o horizonte
Vejo um barco a vela
Assim, de longe
A bordo um homem magro
Retratado pela angústia
Braços largos
Tatuados e peludos
Ouro pelo corpo
Parada, na pedra do porto
Mulher carente
A espera do barco que irá voltar
Criança nas mãos
Pernas abertas
A troca de tostões
Mentalidade fútil
Ele chega
A espanca com as mãos
Que acariciaram seu rosto
Agora são armas tolas
Ela recita textos de cabaré
Dedos a enforcam
Braços a estrangulam
Sem perder forças ela reluta
Vaca, vádia, vagabunda
Puta. Morra. Moribunda
A toa levanta do chão
O ferre com sua faca afiada
Uma faca em seu coração
Agonizando de dor ele diz
Ah, vadia infeliz
De seu navio a dama toma posse
Com seu pequeno pirata virado a morte
Seguindo para o fim de mundo distinto
Acende um cigarro com seu fósforo perdido
A criança, nunca mais a vi
Mas quando vejo o horizonte
Lembro do barco
Que com ele
Sempre sonhei em partir.