A queda do estandarte.


Agora já está tarde
não precisamos mais fingir felicidade
para quem passa e não nos vê
o mato verde-seco que cobriu nossa casa
cobre também a impunidade
e a coragem
de chorar sem sofrer.

Esse abraço encantado e antigo
que transpassou a eternidade
de nosso beijo bandido
e agora se perde
no meio das pedras
da varanda
árvores mortas cobrem minha visão
cegam a fotografia
me deixando só
como de praxe.

Tampouco condenada.


Essas coisas que aqui escrevo
relampejando cada um dos sentidos
fotografias e versos decassílabos
me lembram o quanto posso te amar a distância
no intervalo dos meus cigarros
sem fazer ditado com a recíproca
talvez falsária do sentir.

A mulher mais sincera do mundo.


A mulher mais sincera do mundo
é a que não tem segredos
do dorso inicia o arredo
de cada uma das sensações.

A mulher que tu deve confiar
não é marfim nem vermelho
é da cor do desespero
que te dará
por nunca descobrir
nada que lhe diz.

me faça um favor,
aceite sem pudor:
escreva-me uma carta, 
timbrada de batom
não precisa ser amor, 
só nostalgia,
daquela cinza-fria
faça por mim esse sacrifício
sacrilégio sagrado
entregue depois uma rosa roubada
no meu quarto,
pelo meio da madrugada
que te deixo sentir essa essa dor
que é antes era só minha
mas compartilho,
respondendo para ti tua carta
mas a minha
vem com gosto molhado de uísque

e de ira vilipendiada.

agora que a chama é pequena
e a luz é baixa
agora que o som é leve
e a brisa que recebe é a mesma que invade
posso ousar com a sinceridade
que era de mim toda invasiva
dizer os versos que canto
para assim amenizar minhas feridas
sufocar meu pranto
dentro d'uma margarida.

o futuro que mais me incomoda é aquele
que não é mostrado nas cartas de tarot.

para saciar o gosto do fato.


histórias de papel não me interessam, obrigada
cansei de retrocessos,
cansei da solidão.

meias-verdades-sujas me desfazem, fico grata
falsidade não me agrada,
cansei da frustração.

se me quer que venha por inteiro
mente, corpo e principalmente coração.

tomara que por cima dos meus sonhos caiam montanhas
e não por cima dos meus ombros caia o mundo.

tomara que meus amores sejam feitos de façanhas
e não de qualquer uma dessas falsidades vagabundas.

tomara que eu consiga guardar o terror dentro do armário
e seguir a vida em frente
com aquela cara descabida de quem superou
algum desses trancos da vossa existencia.

tudo é clichê.


todas as palavras do mundo são clichês
todos os sentimenos do mundo são clichês
todos os sonetos do mundo são clichês
o mundo é clichê.

só eu que não, eu sou cool.

o ódio é um sufocamento inconstante
qualquer aplauso delirande
pedido tolo de atenção
caprichada de cetim
bem bolada, rolada, enfim
o ódio é a mais imutável das declarações de amor.

pra quem você vende seu tempo?
quem sustenta teus vícios?
a noite de meia-luz cabisbaixa
ninguém mais ligará para os caprichos
resaltados da madrugada
os vinhos novos demais
cigarros asseados por demais também
enquanto cambaleia pelas ruas
atrás de você-sabe-o-que
pensando que é deus
que pode driblar a vida e a morte
pensando que tem sorte
o suficiente para se fingir mais do que se pode.