descontrole.


como estive pensando em você essa noite, vadia. como pensei em teus olhos e como pensei na tua ingratidão enquanto acendia um cigarro e buscava ansiadamente uma dose letal de qualquer coisa, qualquer coisa que pudesse invadir meu corpo cansado e me fazer esquecer infinitamente todas as coisas que me recuso a lembrar. como pensei em você, como pensei nos teus quadros, como pensei na tua arte e como, tão pouco, pensei em mim. passeando tristemente por dentre o teu mundo vazio e insólido como essa noite que nos cerca de dúvidas e indecisões, além dos pudores exagerados sem nenhum sentido, além da nossa vontade insana de driblar os bons costumes criados por culturas sem nenhum peso intelectual.

ah, intelectualidades! me soa tão remoto e deprimente. penso comigo até quando vamos nos afundar em livros bem escritos com palavras desconexas e frustradas, sem jogo correto ou colocação gramatical que os valha. a poesia é tão suja por vezes, minha poesia tão falsa como todas as outras. explosões de sentimentos não podem nos levar a qualquer outro lugar além de um hospício pobre, aliás, clínicas psiquiátricas são para quem venceu na vida no âmbido de sua própria insanidade. não pararia em um lugar bonito se deixasse bem longe de mim todos os pudores que bem condeno, orquídeas não são bem vindas no inferno, só as rosas.